PARATY


Templos de pedra e cal

Na cidade construída em forma de leque, as igrejas ficam bem próximas umas das outras,

e conhecê-las a pé não leva mais do que 40 minutos. Cultura, natureza e gastronomia formam mistura harmoniosa

Amaro Júnior
Amaro Júnior/cb/d.a press


Artista local retrata Igrejade Nossa Senhora do Rosário, construída no século 18 e inicialmente frequentada por negros escravos

Paraty – Em língua tupi, Paraty designa um peixe que pertence à família das tainhas. Os primeiros lusitanos chegaram à região no fim do século 16 e ali construíram casas. Cem anos depois, os portugueses aproveitaram uma antiga trilha indígena que ligava Paraty ao Vale do Paraíba para escoar a produção de ouro e pedras preciosas das Minas Gerais. Conhecido atualmente como Estrada Real, o caminho dispersava riquezas, pessoas, gêneros e tradições portuguesas, que transitaram e transformaram Paraty em segundo porto do país em importância. Frutos arquitetônicos dessa cultura, as casas da região começaram a surgir apenas com portas, sem janela alguma, como se fossem pequenos armazéns, pois o lugar funcionava apenas como entreposto comercial, ligando litoral e interior.

No século 18, foram construídas a Igreja Matriz, as de Santa Rita e Nossa Senhora do Rosário e definiu-se o traçado urbano em forma de leque, à moda portuguesa. Uma caminhada de 40 minutos pelo Centro Histórico da cidade basta para entender um pouco mais sobre a importância de todos os tijolos e as pedras que formam a charmosa cidade. Não há como ignorar esses templos, erguidos bem próximos uns dos outros. Uma dica para as mulheres é jamais usar salto alto ao fazer esse tipo de passeio. O tênis é o calçado ideal, pois as ruas são feitas de pedras bastante irregulares. O guia para o passeio a pé pode ser contratado pela Paraty Tours, que fica logo na entrada do Centro Histórico. Importante lembrar que no Centro não circulam automóveis, apenas charretes, que oferecem o mesmo passeio pelo preço médio de R$ 10 por pessoa.

* O jornalista viajou a convite da organização do Salão
de Turismo do Estado do Rio de Janeiro



 

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Quando chove muito, não raro as ruas ficam inundadas, como a Dona Geralda. O jeito é pular as poças

No encontro das ruas Samuel Costa e Dona Geralda, uma construção apresenta um pouco mais da história da região: é a Casa da Cultura de Paraty. Uma atração que os visitantes conferem logo na entrada da Casa da Cultura é a fotografia de uma índia com os seios nus e olhar penetrante, além de um tapete de serragem colorida, de 28m, criação artística típica das festas religiosas da cidade. Reprodução do quadro Florestas brasileiras, de Rugendas, o tapete é assinado pelo cineasta Marco Sachs e sua equipe — e protegido por um vidro para que os visitantes possam caminhar sobre ele.

Seguindo pelo tapete, o visitante tem acesso a um completo roteiro turístico eletrônico, em que se pode explorar todo o potencial da região. O material comprova que o charme de Paraty não se resume às charmosas ruas do Centro Histórico: está também na abençoada combinação entre história, arte e elementos da natureza. Ao lado dele reproduções de gravuras do navegador alemão Hans Staden retratam o período em que ele foi mantido em cativeiro pelos índios tupiniquins, em Ubatuba (SP).

Passear pelas ruas de pedra da cidade significa viajar pela história do país, ver a arquitetura colonial, descobrir a importância do porto para o escoamento de ouro e de café para a Europa, conhecer o rico trabalho das tribos indígenas que moram até hoje na região e observar as danças e as festas religiosas que ainda dominam o calendário de Paraty. Como a cidade não vive apenas de suas histórias do passado, outra dica cultural imperdível é o Espaço Cultural Paraty, sediado no Teatro Espaço desde 1991. Trata-se de uma câmara com 100 lugares, onde são apresentados espetáculos de música popular e erudita, dança e peças teatrais. O lugar conta até com um grupo residente, o Contadores de Estórias. Responsável pelo famoso Teatro de Bonecos de Paraty, a trupe já percorreu o mundo e foi citada em jornais como New York Times e Le Monde.

O Espaço Cultural Paraty tem lojinha com lembranças e camisetas para todos os gostos, com temas culturais diversos. O ingresso para as apresentações custa R$ 50 (preço sujeito a alterações), mas uma promoção oferece desconto de 20% no valor da inteira. Estudantes com carteirinha nacional e brasileiros acima de 60 anos pagam meia. Os bilhetes podem ser adquiridos na loja do teatro, nas agências de turismo e na recepção das pousadas. (AJ)



Igrejas

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Nossa Senhora dos Remédios



O povoado de Paraty se formou ao redor desta capela, cuja área foi doada em 1646 por Maria Jácome de Melo, que cedeu parte de suas terras – uma área localizada entre os rios Perequê-Açu e Patitiba, atual Mateus Nunes – para a formação da vila. Ao doar as terras, fez a seguinte imposição: construção de uma capela à santa de sua devoção, Nossa Senhora dos Remédios. A igreja nasceu de pedra e cal e foi demolida em 1668 para dar lugar a uma igreja maior, só terminada em 1712. Porém, em 1787, a igreja já era pequena para abrigar todos os fiéis de Paraty e, por esse motivo, iniciou-se a construção de um templo ainda maior e mais suntuoso. Em 7 de setembro de 1873, a obra foi consagrada e entregue ao culto público. Antes disso, houve procissão da Igreja de Santa Rita rumo à Igreja de N. Sra. dos Remédios. Destacam-se, na construção de estilo neoclássico, as torres e o fundo da igreja, ambos inacabados. O ponto turístico fica na Rua João Luís do Rosário.

Igreja de Nossa Senhora do Rosário


Construída em 1725, foi inicialmente a igreja frequentada pelos escravos. Está localizada no Largo do Rosário. Dedicada também a São Benedito, destinava-se aos negros escravos que ajudaram na construção. A Festa de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário é celebrada no terceiro domingo de novembro. São Benedito era o padroeiro dos escravos e essa festa era considerada a Festa do Divino dos negros. Além de missas e procissões, há apresentações de danças folclóricas de origem africana.


Nossa Senhora das Dores


Localizada na Rua Fresca, foi construída em 1800 por mulheres da aristocracia paratiense. Conta a história que os abastados se apiedavam dos colegas que perdiam a nobreza e, por conta disso, já não mais podiam frequentar a Igreja Matriz. A Nossa Senhora das Dores (foto ao lado) foi erguida para que os cidadãos empobrecidos continuassem a assistir às celebrações e pudessem ser enterrados ao redor de solo santo. É também conhecida como "capelinha".

Santa Rita ou Igreja dos Pardos


É a vedete dos cartões-postais da cidade. As inúmeras fotos tiradas do ponto de vista da Baía de Paraty revelam a construção e compõem a imagem mais difundida da cidade. Erguida em pedra e cal no ano de 1722 por negros libertos, a construção nasceu em louvor ao Menino Jesus, a Santa Rita e a Santa Quitéria. O conjunto é composto de igreja, consistório, sacristia, cemitério e pátio ajardinado. Em 1952, a Secretaria do Patrimônio Histórico Nacional tombou o conjunto e a restauração foi feita no período de 1967 a 1976. Desde então, passa a funcionar no prédio o Museu de Arte Sacra de Paraty, que fica na Travessa Santa Rita.

Estátua viva


Uma curiosidade em frente à Igreja dos Pardos não escapa aos olhos: o que parece ser uma estátua de um escravo negro acorrentado é na verdade a performance artística do ex-terceiro-sargento do Exército Brasileiro Anderson Mota da Silva, de 28 anos. Largou a pomposa farda verde-oliva e passou a dedicar-se aos parcos panos de uma indumentária feita de juta – porém, tão nobre quanto o orgulho por representar o papel. Segundo as contas do ator, até a data desta publicação, são pelo menos 540 dias sob sol e chuva interpretando "quem realmente sofreu." A atuação ganhou registro em O inventor de sonhos, filme de Ricardo Nauenberg que relata a vinda da corte portuguesa para o Brasil, e na novela A favorita, de João Emanuel Carneiro. Em ambas as obras, Silva trabalhou como figurante.







Gilberto Freyre aporta na Flip

Amaro Júnior/cb/d.a press




Mesas literárias com 35 autores, shows, oficinas, exposições e filmes estarão no evento

De política e escravidão aos quadrinhos, das fábulas aos thrillers policiais, do e-book e iPad às letras de música, nada escapa à programação da oitava edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) (1). Entre os dias 4 e 8 de agosto, o evento deve reunir cerca de 20 mil pessoas. Ao longo de cinco dias, 35 autores de diversos países se alternarão nos debates das mesas literárias. Haverá ainda shows, exposições, oficinas, exibições de filmes e apresentações de escolas.

O grande homenageado deste ano é Gilberto Freyre, autor de Casa-Grande & Senzala e referência quando o assunto é miscigenação e identidade nacional. Serão três mesas dedicadas ao autor. Segundo Flávio Moura, diretor de programação da Flip, nesta edição a aposta foi a diversidade de culturas e eles decidiram inovar: "Ainda não havia uma Flip que homenageasse um autor de ciências humanas. E as questões tratadas por Freyre trazem uma temperatura interessante para os debates", explica. A programação atende diferentes públicos. Entre os destaques estão o cartunista Robert Crumb, o roqueiro Lou Reed e a escritora chilena Isabel Allende. Toda a família pode participar da festa. Haverá a Flipinha para as crianças e a FlipZona, direcionada aos adolescentes.

Os ingressos estarão à venda a partir de 5 de julho. A venda vai até o dia 3 de agosto pelo site www.ticketsforfun.com.br, pelo telefone 4003-0848, e nos pontos de venda da Tickets for Fun. A partir de 4 de agosto os ingressos serão vendidos apenas na bilheteria da Flip, em Paraty. Os valores da entrada variam entre R$ 10 e R$ 40.

(1) Turismo aquecido

A Flip nasceu em 2003, com a proposta de revitalização dos espaços públicos de Paraty. Desde então, o evento inseriu o Brasil no calendário internacional de literatura. Hoje, a iniciativa movimenta cerca de R$ 5 milhões em Paraty somente com o negócio de turismo durante o período.

 

    IN: http://www.estaminas.com.br/em.html

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