Revelada (dupla) identidade: Segredo da Mona (Lisa)


Pesquisadores italianos afirmam que Leonardo Da Vinci usou dois modelos para compor sua obra mais famosa. O rosto da Mona Lisa, garantem, foi formado pela junção dos semblantes de uma mulher e de um aluno do pintor

 

O olhar enigmático e o sorriso misterioso da Mona Lisa guardam segredos que permaneceram ocultos por mais de 500 anos. Agora, o maior deles — a identidade da modelo retratada pelo gênio Leonardo Da Vinci — foi aparentemente desvendado, como anunciaram ontem pesquisadores do Conselho Nacional para Valorização do Patrimônio Histórico, Cultural, Arquitetônico e Ambiental da Itália. Depois de fotografar em altíssima resolução a obra, os cientistas encontraram informações que, garantem, levaram à solução do enigma. A conclusão é tão surpreendente quanto a genialidade de Da Vinci. O rosto visto por 8,5 milhões de pessoas todos os anos no Museu do Louvre, em Paris, é formado pela fusão dos semblantes de um homem e de uma mulher: Salai, servo e aluno do pintor, e Lisa Ghirardini, italiana que encomendou o quadro.

Para os responsáveis pelo estudo, a parte inferior do rosto, que compreende o nariz, o queixo e o famoso sorriso, foi “emprestada” por Salai, com quem o pintor conviveu por mais de duas décadas. Já a parte superior seria de Lisa Ghirardini, casada com um comerciante de Florença. Os pesquisadores acreditam que Da Vinci teria tido uma relação romântica com os ambos os modelos.

 

Mais do que a simples mistura de dois rostos, os autores da análise percebem um significado maior para a decisão de Da Vinci de usar os modelos. “Salai aparece no quadro com uma conotação sensual. Mas, além disso, as imagens dele e de Lisa formam uma expressão de contrastes”, explica ao Estado de Minas Silvano Vicenti, diretor da entidade responsável pelo estudo. Segundo ele, a dualidade masculino e feminino é usada para representar o mundo em seus contrastes, como o bem e o mal ou o claro e o escuro.

Conforme mostrou reportagem do Estado de Minas de 19 de dezembro, o grupo de pesquisadores já havia anunciado a descoberta de letras nas pálpebras da Mona Lisa. O achado foi possível graças aanálises microscópicas. As consoantes S, B e D e as iniciais CE estariam sobre o olho direito. No esquerdo, a inscrição LV. Análises adicionais, no entanto, mostraram que apenas as letras S e L estão gravadas, respectivamente nos lados direito e esquerdo. A primeira, segundo os estudiosos, se refere à época em que o quadro começou a ser pintado. Em 1503, quando Da Vinci iniciou a obra, ele trabalhava para a família Sforza, na região de Milão. Já o L vem do nome do próprio autor da pintura, o que indica a relação da obra com a vida de seu autor. “Trata-se de um testamento pictórico, filosófico e existencial de Leonardo. A Mona Lisa deve ser lida em vários níveis, como a Bíblia. Muitos historiadores da arte ou das experiências de Leonardo cometeram o erro de dar uma leitura unilateral para a obra”, aponta Vicenti.

Para o pesquisador italiano, a obra é muito mais complexa do que um simples objeto de arte. “La Gioconda (como o quadro também é chamado pelos italianos) contém vários níveis: pintura, símbolos, elementos religiosos e filosóficos”, afirma. Assim, o quadro representaria a síntese da vida e do pensamento de Da Vinci, expressando ainda os princípios fundamentais do Humanismo e do Renascimento, como a harmonia, a proporção e a oposição de elementos.

CABALA Outra novidade trazida pelas pesquisas italianas diz respeito a um detalhe quase imperceptível da obra. Acima do ombro de Mona Lisa está representada uma ponte, sobre a qual foi gravado o número 72. Em princípio, acreditou-se que o número fazia referência ao ano de 1472, quando a ponte de Bobbio, na região de Vicenzia — que se acreditava ser a representada na tela — foi demolida. Novas análises mostraram que não se trata da ponte demolida, mas de uma estrutura que continua de pé até hoje, na região de Arno, na Toscana, que apresenta as características arquitetônicas medievais da ponte pintada.

Quanto ao número 72, os pesquisadores identificaram uma simbologia digna das páginas de O código Da Vinci, best-seller de Dan Brown. “Acreditamos que o 72 tem muitos outros significados, que vão além da demolição de uma obra sem qualquer interesse público”, acrescenta Silvano Vicenti. Na cabala, filosofia bastante difundida durante o renascimento, o sete refere-se à criação do mundo de Deus. “No cristianismo, este número está relacionado com os sete sacramentos, mas também é a soma de quatro mais três, o princípio subjacente ao material e o mundo espiritual e da vida, não em oposição entre si, mas unidos”, afirma Vicenti. Já o número dois, segundo o pesquisador, “representa a dualidade, a oposição, o princípio e o fim, justamente ideias que Leonardo Da Vinci queria transmistir em seu quadro.”

A presença de símbolos ocultos, ícones e mensagens secretas, que podem parecer estranhos aos olhos do século 21, eram comuns em obras do período. “Outros pintores, como Michelangelo e Rafael, também esconderam símbolos e mensagens secretas em suas produções. Isso faz parte de uma corrente de pensamento em que a obra tem uma função que vai além da estética”, explica a professora de história da arte da Faculdade Dulcina de Morais, em Brasília, Tatiana Fernandes, que acredita na análise de símbolos para elucidar mistérios sobre outras obras do Renascimento. Para Vicenti, no entanto, o mistério está longe do fim e novas informações sobre o quadro mais famoso do mundo ainda podem surgir. “Isso porque Leonardo representou não apenas o aspecto físico, mas também sua alma”, conclui.


Max Milliano Melo 


In: Estado de Minas. Ciência, quinta feira, 3 de fevereiro de 2011, p. 20

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