JUVENTUDE, GRUPOS CULTURAIS E SOCIABILIDADE



Juarez Dayrell
Professor Doutor da Faculdade de Educação da UFMG e coordenador do Observatório da
Juventude da UFMG. Email: juarezd@uai.com.br

À pergunta: quantos anos você tem? Dever-se-ia poder responder exatamente:“Tenho todas as idades da vida humana”.
Edgar Morin.



Com este trabalho, proponho discutir a sociabilidade em grupos culturais juvenis pertencentes a diversas linguagens artísticas, refletindo sobre o peso e o significado que esta adquire nos processos de formação humana desses jovens. Essa discussão se inscreve em um debate mais amplo acerca dos tempos da vida e as possíveis relações com a educação. Assim se explica a epígrafe do texto. Ela é parte de um pequeno e denso texto no qual Morin (1987, p.254-255) faz uma provocação a respeito das relações que mantemos com a idade, levando-nos a refletir sobre os significados de se ter uma idade, as relações entre os diferentes tempos da vida e, principalmente, a naturalização com que geralmente tratamos este tema, como se ser criança, jovem ou velho fosse apenas um dado da natureza, e não uma dimensão simbólica.
Morin se insurge contra uma tendência de pensar a infância, a juventude a maturidade e a velhice como etapas rígidas, que se esgotam em si mesmas, como se a passagem de cada um desses ciclos implicasse a superação do anterior. Nessa concepção, ainda hegemônica entre nós, a cada uma dessas etapas seria necessário adequar-se a um conjunto de normas socialmente definidas, que, associadas a um imaginário social, vão nos dizer desde o que podemos ou não fazer em cada idade, até o que vestir ou mesmo como falar. Não seguir estas normas implica ”cair no ridículo”, uma forma de coagir os possíveis desviantes. Assim, a idade não é a sua nem a minha, é a idade do outro, que ao nos ser dada nos possui, de tal forma que nosso tempo fica aprisionado. Como nos lembra Lhoret (1998, p.14), “mais do que ter uma idade, pertencemos a uma idade. Os anos nos tem e nos fazem; fazem com que sejamos crianças, jovens, adultos ou velhos...”. É essa perspectiva que nos leva a construir nossa identidade em função de parâmetros socialmente estabelecidos e, em troca, termos uma indicação mais ou menos segura do repertorio de ações aceitáveis em uma determinada idade”.
Contrapondo-se a essa posição, Morin (1987, p.255) afirma que cada ciclo da vida engloba todos os outros vivenciados até então:
É agora, quando se misturam envelhecimento e rejuvenescimento, que sinto em mim todas as idades da vida. Sou permanentemente a sede de uma dialógica entre infância / adolescência / maturidade / velhice. Evoluí, variei, sempre segundo esta dialógica. Em mim, unem-se, mas também se opõem, os segredos da maturidade e os da adolescência.
E termina fazendo-nos uma pergunta provocadora:

Que resta de você?.Você se tornou poroso, corroído, escamoso, esponjoso? Você se emudeceu, endureceu, fechou-se, desfez-se em pó? Resistiu ao lento desvio da idade? Ganhou os segredos da maturidade, sem perder os segredos da adolescência?

Nessa outra forma de refletir e lidar com os tempos da vida supera-se a sucessão linear e fechada de cada uma das suas etapas. Significa ver e viver as experiências articuladas, com a possibilidade de múltiplas respostas, de forma que uma idade não elimina a outra, mas a contém. Significa assumir o direito de jogar, em cada situação, com todas e cada uma das cartas da experiência acumulada, seja ela grande ou pequena, de tal maneira que, em cada itinerário pessoal, o tempo fosse nosso amigo, e não cárcere, permitindo, assim, uma identidade flexível e diversificada (LHORET, 1998)
Essas concepções interferem diretamente na forma como geralmente se elabora uma compreensão e define-se uma postura diante da infância, da juventude e também da velhice. Na visão hegemônica sobre a juventude, por exemplo, a primeira postura se manifesta na compreensão do jovem como um vir a ser, tendo, no futuro, na passagem para a vida adulta, o sentido das suas ações no presente. Implica uma postura que tende a encarar a juventude na sua negatividade: o que se é mais e ainda não chegou a ser (DAYRELL, 2003). Alia-se a uma tendência em determinar o tempo da juventude com critérios etários predefinidos e rígidos, delimitando posturas e políticas públicas que não atendem às necessidades da juventude. É muito comum encontrar educadores e gestores de programas sociais que nunca se perguntaram pela especificidade do jovem, pelas demandas próprias do seu processo de formação humana.

Leia mais em: http://www.fae.ufmg.br/objuventude/acervo.php

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