Brasília na visão de Clarice Lispector


"Brasília é construída na linha do horizonte. – Brasília é artificial. Tão artificial como devia ter sido o mundo quando foi criado. Quando o mundo foi criado, foi preciso criar um homem especialmente para aquele mundo. Nós somos todos deformados pela adaptação à liberdade de Deus. Não sabemos como seríamos se tivéssemos sido criados em primeiro lugar, e depois o mundo deformado às nossas necessidades. Brasília ainda não tem o homem de Brasília. – Se eu dissesse que Brasília é bonita, veriam imediatamente que gostei da cidade. Mas de digo que Brasília é a imagem de minha insônia, vêem nisso uma acusação; mas a minha insônia não é bonita nem feia – minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto.(...)

– Eu sei o que os dois(Lucio Costa e Oscar Niemeyer) quiseram: a lentidão e o silêncio, que também é a ideia que faço da eternidade. Os dois criaram o retrato de uma cidade eterna. – Há alguma coisa aqui que me dá medo. Quando eu descobrir o que me assusta, saberei também o que amo aqui. O medo sempre me guiou para o que eu quero; e, porque eu quero, temo. Muitas vezes foi o medo quem me tomou pela mão e me levou. O medo me leva ao perigo. E tudo o que amo é arriscado. – Em Brasília estão as crateras da Lua.
– A beleza de Brasília são as suas estátuas invisíveis."


 

Clarice Lispector - escritora da terceira geração modernista - nasceu na Ucrânia e mais tarde mudou-se com a família para o Brasil. Sua produção literária surpreendeu pela busca de uma compreensão da consciência individual, marcada sempre pela grande introspecção das personagens. Ha quem diga que as personagens retratadas e toda a sua angústia diante de situações cotidianas eram, na verdade, a própria exteriorização da autora.

In: http://herancacandanga.blogspot.com/2009/11/clarice-lispector-escritora-da-terceira.html

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