O anjo da História



Walter Benjamin encontrou nessa obra de Paul Klee  chamado Angelus Novus a mais adequada expressão do desespero da modernidade, face à história. O olhar alucinado e esbugalhado do anjo, impotente perante a catástrofe do progresso, colide brutalmente com o otimismo histórico que os positivistas reclamavam. No desdobramento interno dessa imagem permanece a destruição alegórica e violenta que contém em si, paradoxalmente, a possibilidade da redenção messiânica. O anjo reconhece a impossibilidade de salvar a história vista à luz do progresso, todas as coisas que se submetem ao vento e à tempestade arrebatadora do Progresso.
 
Eis as palavras com as quais Benjamin abre o texto:




“Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus.


Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente.


Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas.


O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado.


Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés.


Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las.


Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos de progresso.”


Walter Benjamin, “Obras Escolhidas”, tradução: Sérgio Paulo Rouanet, 1994 – 7.ed. Editora Brasiliense. p.226.


 

Walter Benedix Schönflies Benjamin (Berlim, 15 de julho de 1892 — Portbou, 27 de setembro de 1940) foi um ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo judeu alemão. Associado à Escola de Frankfurt e à Teoria Crítica, foi fortemente inspirado tanto por autores marxistas, como Georg Lukács e Bertolt Brecht, como pelo místico judaico Gerschom Scholem. Conhecedor profundo da língua e cultura francesas, traduziu para alemão importantes obras como Quadros Parisienses de Charles Baudelaire e Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust. O seu trabalho, combinando ideias aparentemente antagônicas do idealismo alemão, do materialismo dialético e do misticismo judaico, constitui um contributo original para a teoria estética. Entre as suas obras mais conhecidas, contam-se A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica (1936), Teses Sobre o Conceito de História (1940) e a monumental e inacabada Paris, Capital do século XIX, enquanto A Tarefa do Tradutor constitui referência incontornável dos estudos literários.

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