Os profetas de Aleijadinho


Contemplemos os profetas de Congonhas, no seu fulgarante "ballet", para usar a expressão de Germain Bazin. Não existe no mundo inteiro maior conjunto artístico do que aquele. Cada Profeta traz na respectiva cartela imprecações e invectivas contra os poderosos e os tiranos.
Está na boca de Isaías - "encostaram uma brasa aos meus lábios."
 
Joel diz solene:
"Forjai espadas das relhas de vossos arados."
Amós protesta:
"Machucam sobre o pó da terra as cabeças dos pobres."

Eis como Gilberto Freyre analisa a obra de Antônio Francisco Lisboa, tomando-a como "expressão da rebeldia social e do desejo brasileiro, indígena e mestiço, de independência face aos homens brancos ou europeus exploradoradores da mão-de-obra escrava".
E mais:

"Nesse mulato doente - distanciado socialmente dos dominadores brancos não só pela cor e pela origem como pela doença que lhe foi comendo o corpo e secando os dedos até só deixar vivo um resto ou retalho de homem e de sexo - o ressentimento tomou a expressão de revolta social, de vingança de sub-raça oprimida, de sexo insatisfeito, do donjuanismo inacabado, conclui o grande sociólogo brasileiro.


In: Aleijadinho, Patrono da Arte no Brasil.Câmara dos deputados. Brasília, 1977.

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