Festa do Rosário - Serro - Minas Gerais


Um verdadeiro testemunho da riqueza do patrimônio imaterial brasileiro, a Festa do Rosário é realizada em diversas cidades do país. A equipe RM traz para o leitor maiores detalhes sobre a Festa do Rosário do Serro, que ocorre tradicionalmente na região de Minas Gerais, desde o século XVIII. Com uma origem histórica que remonta ao século XVI, através da vitória dos cristãos portugueses sobre os muçulmanos, na Batalha de Lepanto - atribuída não apenas à estratégia militar mas também à proteção da Virgem do Rosário - o culto se perpetuou no Brasil tanto pela extrema fé dos cristãos portugueses como pela crença dos escravos, que a têm como padroeira.
          A Festa do Rosário do Serro, que revela a religiosidade da população com a criação de uma lenda histórica na região, vem sendo realizada desde 1724 e se constitui na festa mais importante da cidade até os dias atuais. Durante cinco dias, de 29 de junho a 04 de julho, dançantes, festeiros, juízes, rei e rainha, e principalmente os fiéis acompanham a manifestação dos participantes pelas ruas, casas e igreja, a fim de cumprir todas as fases da concorrida homenagem à santa, que incluem a Novena, a Caixa de Assovios, a solenidade do Mastro, a queima de fogos, a busca do Rei e da Rainha da Festa,  a Passagem do Cetro, a Missa, entre outras, seguidas pelos caboclos, marujos e catopês.
A população acompanha os personagens da Festa do Rosário
          Venha conhecer um pouco mais sobre essa tradição religiosa e importante manifestação do patrimônio imaterial brasileiro!

Origem Histórica
          No dia 7 de outubro de 1571, o Papa São Pio V estava trabalhando com alguns de seus auxiliares, quando, levantou-se e disse, em momento de contemplação: “É tempo agora de agradecer a Deus: a nossa esquadra acaba de vencer os muçulmanos”. Alguns dias mais tarde, o fato é consumado, conforme pressentira o Papa. Uma vitória humanamente impossível, porém alcançada não pela força das armas, mas pela estratégia dos comandantes e assistência de Nossa Senhora do Rosário. O mesmo Papa dirigiu ardente exortação a todas as confrarias e associações, como aos fiéis em geral, para que rezassem o terço nessa intenção, ou seja, pela vitória dos cristãos. O Santo Pontífice quis que se perpetuasse na Igreja a memória da Batalha de Lepanto, em que o Islão foi completamente vencido pelos cristãos, protegidos pela Virgem do Rosário.  Foi estabelecida a festa litúrgica de Nossa Senhora do Rosário a 7 de outubro de cada ano, por determinação do Papa Gregório XIII para determinadas Igrejas, mas, o Papa Clemente XI estendeu-a ao mundo católico em geral, em ação de graças por um novo triunfo alcançado por Carlos VI da Hungria sobre os turcos, em 1716. Tendo a Península Ibérica, da qual Portugal faz parte, sido dominada por invasores mouros/africanos, perpetuou-se no espírito dos colonizados brasileiros, quer por parte dos escravos, quer por parte dos portugueses, a idéia de render culto à mãe de Deus, sobre o título de Nossa Senhora do Rosário. E não tardou que a religiosidade popular Serrana, transformasse os fatos históricos em linda lenda.

A Lenda de Nossa Senhora do Rosário
          Diz uma lenda histórica que em certa época Nossa Senhora do Rosário apareceu sob as águas do mar. Imediatamente, os Caboclos, já devotos da Santa Virgem através de catequese dos Jesuítas, rezaram, dançaram, cantaram, tocaram seus instrumentos, para que a Santa Virgem viesse até eles. Mas Ela não veio. Em seguida, os Marujos, também devotos, foram até a praia e empreenderam sua tentativa de trazer a Virgem do Rosário até eles. Após rezarem, dançarem, cantarem, tocarem seus instrumentos, não conseguiram trazê-la. Por último, vieram os Negros ou Catopês até a praia e após louvarem a Virgem do Rosário, Ela veio até eles. Por isto é que se diz que a Virgem de N. Sª do Rosário é a protetora dos negros. Em razão disto, é que todos os anos, na praça principal da Cidade do Serro, os dançantes são orientados a representar tal lenda.

Altar-mor da Igreja de
N.Sª do Rosário no Serro (MG)
Fachada da Igreja de
N.Sª do Rosário no Serro (MG)
 

Conheça os grupos de dança que participam da festa
Caboclos – representam os índios que ao som de caixas de couro e sanfona reverenciam a Virgem com alegria. São a persistência do indígena que não se deixou dominar. Enfeitam-se com coletes coloridos, adornados de lantejoulas; usam cocares de penas coloridas, enfeitadas com fitas, perneiras com penas, pulseiras e brincos. Trazem consigo uma flecha de madeira para o ritmo da festa.

Caboclos seguem em direção
à Igreja do Rosário

Os caboclos circulam pelas ruas ao
som de caixas de couro e sanfonas
Marujos – representam o branco, a Esquadra Portuguesa na luta contra os Mouros. Vestem-se como marinheiros. Cantam ao som de instrumentos de corda, cavaquinhos e violões, de pandeiros, xiquexiques, flautas e caixas de couro. Seus passos são cadenciados e sugerem um movimentado combate.


Os marujos cantam representando a Esquadra Portuguesa

O grupo de marujos com seus cavaquinhos passando pela praça principal do Serro
Catopês – representam os negros e com o toque das caixas de couro revivem os gemidos nas senzalas. Levam tamborins, caixas de couro, xiquexiques e reco-recos. Suas roupas são capas de chita estampada, enfeitam-se com espelhos, lenços, usam capacetes enfeitados com penas. São os responsáveis por encaminhar a bandeira ao mastro, tirar do trono os festeiros, tirar Nossa Senhora do altar e devolvê-la.
Catopês lutam ao som do reco-reco
A Festa de N.Sª do Rosário no Serro
          No sábado, primeiro dia da Festa, o Congado-Rei e Rainha, Juízes e Juízas – e os grupos de dança – Catopês, Marujos e Caboclos – tomaram as ruas do Serro para louvar a Nossa Senhora. Às cinco horas da manhã, a Matina inaugurou a festa, no adro da Igreja do Rosário, com a permissão de Nossa Senhora. O pedido de benção veio da Caixa de Assovios. À noite, o Mastro foi acompanhado pelo ritmo e cores dos grupo de dança, e a bandeira de Nossa Senhora foi trazida até a Igreja pelo Mordomo do Mastro.

O Rei e a Rainha da Festa desfilam em frente ao adro da igreja
          No Domingo, às seis horas da manhã, os Catopês convidaram os festeiros para a formação do reinado. O ritual começou na casa dos primeiros Juiz e Juíza, segundos Juiz e Juíza e invadindo a casa do Rei, com o encontro entre Catopês, Caboclos e Marujos para buscar a Rainha, que seguiram rumo à Igreja do Rosário. A coroação de Nossa Senhora e a apresentação da lenda, seguida da procissão, encerraram o dia.

          Na posse do reinado do ano seguinte, segunda-feira, ao meio-dia, repetiu-se o ritual de retirada dos festeiros, que seguiram para a Igreja do Rosário, despediram-se da festa e retornaram às suas casas em companhia dos dançantes do Rosário.


Fonte de pesquisa: http://www.revistamuseu.com.br/naestrada/naestrada.asp?id=6431


indicação de leitura:
*ESCRAVOS E LIBERTOS NAS IRMANDADES DO ROSÁRIO: DEVOÇÃO E SOLIDARIEDADE EM MINAS GERAIS - SÉCULOS XVIII E XIX.CÉLIA MARIA BORGES. JUIZ DE FORA:  EDITORA DA UFJF, 2005.

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