Do Barão ao Rosário do Pontal

 

Em nosso expresso cultural pela Ponte Nova, pretendíamos chegar ao Chopotó que já é um patrimônio natural tombado. Pela segunda vez, São Pedro, quem sabe, o Barão do Pontal ou até mesmo o clamor deste povo que reza pela Senhora do Rosário mudasse o nosso itinerário. A chuva caía, mas mesmo assim fomos com entusiasmo experenciar a sabedoria e a memória dos mais velhos do Rosário do Pontal.


 Na pracinha, encontramos  com Sr. Paulo,  cortador de cana que relata a sua vida no campo, desde os 10 anos de idade. Ganhou prêmios de  "foice de ouro" e de "prata", por ser aquele que mais se destacou no corte! Não achava o serviço pesado, comparando-o ao das professoras. Disse que nos tempos de Sr. Manoel Marinho Camarão, recebia sacolas de leite não só para a turma, chegando mesmo a levar o alimento para casa. Satisfeito recebeu a nossa comitiva e foi buscar Sr. Joaquim Venâncio, de 83 anos de idade, para explicar sobre a  Capela Nossa Senhora do Rosário.

Quem nunca tinha ficado tanto tempo dentro de uma igreja, sentiu-se encantado com este lugar sagrado. Aprendemos que no início era apenas uma capelinha, sendo ampliada com o número de devotos. Tantas imagens  foram mostradas mas a fé e  devoção deste povo é celebrada a cada outubro com as  tradicionais procissões  do Rosário  e  Nossa Senhora Aparecida.

Casos e casos:  o  do Barão do Pontal¹ (veja comentário abaixo), poderoso Senhor da cana-de-açúcar que no dizer do Sr. Joaquim "quando morreu nem a terra comeu o seu corpo, pois o esqueleto ficava rodando pelas águas". Ele viu   e outros também, trazendo este relato em suas histórias. "Aquele cemitério dos escravos é poderoso, muitas almas inocentes estão lá e até hoje o povo sobe para fazer suas promessas e alcançar graças", conclui D. Maria.

Na estiagem, alunos visitaram a antiga estação do Pontal e a Escola Municipal  Nossa Senhora do Rosário. As marcas da última enchente foram a tônica do relato dos moradores. Paramos na Escola Estadual Miguel Abraão Silami, onde fomos muito bem recebidos pela Diretora Selma. Dali,  avistamos as marcas do passado que já foi, mas projetamos o futuro das gerações que ainda tem muito a fazer pela história. Os depoimentos virão, estamos só começando...



¹ Manoel Ignácio, “nascido e batizado na Província do Minho do Reino de Portugal” em 1781, chegou ao Brasil em 1806 com 25 anos, portanto. No início de seu testamento está escrito: “Desde o ano de 1806 residi no Brasil, e se até 1822 fui português – jurei as bases da Constituição Portuguesa, depois de feita a separação, jurei a do Brasil, onde fiquei com todo meu coração.” ¹


Manoel Ignácio foi nobilitado em 1941 pelo menino imperador D. Pedro II, com o título de Barão do Pontal, homenageando a sua propriedade às margens do rio Piranga.

 E foi na tão amada fazenda do Pontal que faleceu, sendo enterrado em seu cemitério particular. Barão tinha, ainda, seu próprio cemitério.

Durante sua vida recebeu três heranças: a primeira (1830) e bem substanciosa veio de seus tios que não tinham filhos e o consideravam como tal, a segunda (1852) de seu irmão o Cônego Antonio José de Mello que comandou a paróquia de Barra Longa por 23 anos. Como era comum entre os padres da época, o Cônego era, ao falecer, um homem rico. Deixou para o irmão 26 escravos, terras e casas na Barra Longa, Mariana e Juiz de Fora. A terceira (1857) foi mais simbólica – o legado da forra Senhorinha Rocha. Uma quarta herança recebida de uma senhora solteirona, talvez irmã de sua tia Antonia Constância da Rocha, teria sido a origem da fazenda do Pontal. Infelizmente não foram encontrados indícios que comprovassem o recebimento desse legado.

¹ Arquivo do Fórum de Ponte Nova: 2º Ofício, Caixa 1494/1506 B. Apud: REZENDE, Irene Nogueira. Um estudo de caso: a história do Barão do Pontal: Mineiros da Zona da Mata na construção do Estado Nacional (1821-1841).
 

Comentários

  1. Foi um passeio muito bom e interessante. apesar da chuva foi bem divertido e deu pra aprender bastante.

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