Globalização e desenvolvimento tecnológico
O termo globalização se apresenta das mais diversas formas no nosso cotidiano, sobretudo na mídia. Trata-se de um processo histórico que se originou logo após a II Guerra, e que se estruturou ao longo da década de 1970, alcançando uma escala mundial na virada do século XX. É um processo que envolve nações, regimes políticos, classes sociais, mas que está ocorrendo muitas vezes à revelia desses envolvidos.Essa nova dimensão tomada pelo capitalismo tem sido capaz de gerar riquezas em uma proporção sem precedentes. Contudo, essa riqueza não tem sido revertida em bem-estar para a maioria da população mundial, e, nem mesmo a internacionalização dos processos de produção têm gerado empregos. Para o operariado isso significou, além da crescente possibilidade de desemprego, mesmo em uma economia aquecida, a exaustão do seu instrumental de luta pelos seus direitos historicamente construídos. Portanto, faz-se necessário compreender como o uso da tecnologia interfere nas relações de trabalho na atualidade para melhor refletir acerca do nosso papel diante desses novos impasses.
“Precisa-se de emprego” - A globalização da economia acabou por revelar um problema comum a todos os países: o desemprego. A cada dia, mais trabalhadores engrossam as estatísticas, desafiando governos e exigindo alternativas. (...) O desemprego não está mais sujeito apenas a fatores circunstanciais, como políticas econômicas de governo, variações climáticas e opções de desenvolvimento. Está vinculado diretamente à nova estrutura de produção, mais enxuta e em processo de constante automação.(...) No Brasil, o debate também ganha espaço e contornos novos e graves. A expectativa de que a alternativa a um país como o nosso é ampliar o número de postos de trabalho no campo, não se concretiza. Ao contrário, a luta no campo se acirra.(...) Também nos centros urbanos, o drama está presente na vida dos trabalhadores. – ‘A gente é demitida de repente e fia sem retaguarda’ lamentou o metalúrgico Cleber Modesto, demitido da Pilão Máquinas e Equipamentos de são Paulo e que recebia R$598,00 e é um dos 4.191 excluídos do mercado de trabalho paulista na primeira semana de abril [1996].”[1]
“A injustiça estrutural do mundo está enraizada no sistema de valores promovido por uma poderosa cultura de impacto mundial (...) esse impacto chega a nossos países por meio da tecnologia e dos sistemas financeiros internacionais. Trata-se de um impacto cultural que, ao radicalizar-se pelo neoliberalismo, tende a valorizar o ser humano unicamente pela sua capacidade de gerar rendas e obter êxito no mercado. Esse conceito reducionista penetra as mentes dos dirigentes de nossos países, passa pelo comportamento da classe média e chega até os últimos redutos das comunidades populares, indígenas e camponeses, acabando com a solidariedade e liberando a violência.” [2]
“Nos EUA e na Itália, os trabalhadores eram dispensados porque o principal objetivo da nova tecnologia era reduzir custos de mão-de-obra; na França, a perda de emprego foi menor que nos dois outros países, porque as políticas governamentais atenuaram os impactos sociais da modernização; e no Japão, onde as empresas estavam comprometidas com o emprego vitalício, os empregos, de fato, aumentaram e a produtividade cresceu ainda mais em conseqüência de retreinamento e maior esforço das equipes de trabalho.Estudos sobre a interação entre a transformação tecnológica e a reestruturação capitalista, conduzidos durante a década de 80, também mostraram que, com bastante freqüência e antes de tudo, as tecnologias foram introduzidas mais para economizar mão-de-obra, submeter os sindicatos e reduzir custos do que melhorar a qualidade ou aumentar a produtividade por meios que não sejam a redução do quadro funcional”[3].
“Eu não sou contra as máquinas e acho absurdo que se renuncie à tecnologia, e se volte atrás no tempo. Apenas me revolta a voracidade com que automação substitui o trabalho humano sem que ninguém se dê conta do que está acontecendo. Quando há alguns anos se previa que as máquinas fariam tarefas dos trabalhadores, a imagem que se projetava de uma bilheteira do metrô de Paris ou de um caixa de banco brasileiro é que com a tecnologia eles seriam mais felizes; passariam a vida cuidando das flores de seu jardim ou teriam mais tempo para brincar com os filhos. Só que, com as bilheterias automáticas e os caixas eletrônicos, essas pessoas foram, na verdade, jogadas numa subclasse social. O que eu questiono é o que se fará com as pessoas que perdem o emprego por causa das máquinas. Já existem 120 milhões de desempregados pelo mundo afora.”[4]
“Por ora, a organização social não consegue acompanhar o progresso tecnológico: as máquinas mudam muito mais velozmente do os hábitos, as mentalidades e as normas. Precisaria redistribuir eqüitativamente a riqueza (que aumenta) e o trabalho (que diminui); entretanto, alarga-se a distância entre alguns que trabalham e ganham cada vez mais e outros que são forçados à inércia e à miséria. Há quinze anos, a relação entre os salários mais baixos e os mais altos pagos nos Estados Unidos era um para 41; hoje, é de um para duzentos. O presidente do Travellers Group ganha 413 bilhões de liras por ano (mais de um bilhão por dia!); o presidente da Coca-Cola ganha 201 bilhões. No entanto, no mesmo país, o mais poderoso do mundo, 30 milhões de cidadãos vivem abaixo do limite de pobreza, sete milhões estão reduzidos a mendigos sem moradia fixa e 1milhão de 700 mil estão encarcerados.”[5]
[1] Jornal do Brasil, Caderno Negócios & finanças, 28 de abril de 1996.
[2] Carta dos superiores provinciais da Companhia de Jesus da América latina. Documento de trabalho. O neoliberalismo na América latina. São Paulo: Ed. Loyola, 1997.
[3] CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. p. 270 – 271.
[4] Entrevista com Viviane Forrest. O desabafo da dama do apocalipse. Exame, 27 de agosto de 1997, p. 73.
[5] DE MAIS, Domenico. O futuro do trabalho. 2ª ed. Rio de janeiro: José Olympio, 2000.
“Precisa-se de emprego” - A globalização da economia acabou por revelar um problema comum a todos os países: o desemprego. A cada dia, mais trabalhadores engrossam as estatísticas, desafiando governos e exigindo alternativas. (...) O desemprego não está mais sujeito apenas a fatores circunstanciais, como políticas econômicas de governo, variações climáticas e opções de desenvolvimento. Está vinculado diretamente à nova estrutura de produção, mais enxuta e em processo de constante automação.(...) No Brasil, o debate também ganha espaço e contornos novos e graves. A expectativa de que a alternativa a um país como o nosso é ampliar o número de postos de trabalho no campo, não se concretiza. Ao contrário, a luta no campo se acirra.(...) Também nos centros urbanos, o drama está presente na vida dos trabalhadores. – ‘A gente é demitida de repente e fia sem retaguarda’ lamentou o metalúrgico Cleber Modesto, demitido da Pilão Máquinas e Equipamentos de são Paulo e que recebia R$598,00 e é um dos 4.191 excluídos do mercado de trabalho paulista na primeira semana de abril [1996].”[1]
“A injustiça estrutural do mundo está enraizada no sistema de valores promovido por uma poderosa cultura de impacto mundial (...) esse impacto chega a nossos países por meio da tecnologia e dos sistemas financeiros internacionais. Trata-se de um impacto cultural que, ao radicalizar-se pelo neoliberalismo, tende a valorizar o ser humano unicamente pela sua capacidade de gerar rendas e obter êxito no mercado. Esse conceito reducionista penetra as mentes dos dirigentes de nossos países, passa pelo comportamento da classe média e chega até os últimos redutos das comunidades populares, indígenas e camponeses, acabando com a solidariedade e liberando a violência.” [2]
“Nos EUA e na Itália, os trabalhadores eram dispensados porque o principal objetivo da nova tecnologia era reduzir custos de mão-de-obra; na França, a perda de emprego foi menor que nos dois outros países, porque as políticas governamentais atenuaram os impactos sociais da modernização; e no Japão, onde as empresas estavam comprometidas com o emprego vitalício, os empregos, de fato, aumentaram e a produtividade cresceu ainda mais em conseqüência de retreinamento e maior esforço das equipes de trabalho.Estudos sobre a interação entre a transformação tecnológica e a reestruturação capitalista, conduzidos durante a década de 80, também mostraram que, com bastante freqüência e antes de tudo, as tecnologias foram introduzidas mais para economizar mão-de-obra, submeter os sindicatos e reduzir custos do que melhorar a qualidade ou aumentar a produtividade por meios que não sejam a redução do quadro funcional”[3].
“Eu não sou contra as máquinas e acho absurdo que se renuncie à tecnologia, e se volte atrás no tempo. Apenas me revolta a voracidade com que automação substitui o trabalho humano sem que ninguém se dê conta do que está acontecendo. Quando há alguns anos se previa que as máquinas fariam tarefas dos trabalhadores, a imagem que se projetava de uma bilheteira do metrô de Paris ou de um caixa de banco brasileiro é que com a tecnologia eles seriam mais felizes; passariam a vida cuidando das flores de seu jardim ou teriam mais tempo para brincar com os filhos. Só que, com as bilheterias automáticas e os caixas eletrônicos, essas pessoas foram, na verdade, jogadas numa subclasse social. O que eu questiono é o que se fará com as pessoas que perdem o emprego por causa das máquinas. Já existem 120 milhões de desempregados pelo mundo afora.”[4]
“Por ora, a organização social não consegue acompanhar o progresso tecnológico: as máquinas mudam muito mais velozmente do os hábitos, as mentalidades e as normas. Precisaria redistribuir eqüitativamente a riqueza (que aumenta) e o trabalho (que diminui); entretanto, alarga-se a distância entre alguns que trabalham e ganham cada vez mais e outros que são forçados à inércia e à miséria. Há quinze anos, a relação entre os salários mais baixos e os mais altos pagos nos Estados Unidos era um para 41; hoje, é de um para duzentos. O presidente do Travellers Group ganha 413 bilhões de liras por ano (mais de um bilhão por dia!); o presidente da Coca-Cola ganha 201 bilhões. No entanto, no mesmo país, o mais poderoso do mundo, 30 milhões de cidadãos vivem abaixo do limite de pobreza, sete milhões estão reduzidos a mendigos sem moradia fixa e 1milhão de 700 mil estão encarcerados.”[5]
[1] Jornal do Brasil, Caderno Negócios & finanças, 28 de abril de 1996.
[2] Carta dos superiores provinciais da Companhia de Jesus da América latina. Documento de trabalho. O neoliberalismo na América latina. São Paulo: Ed. Loyola, 1997.
[3] CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. p. 270 – 271.
[4] Entrevista com Viviane Forrest. O desabafo da dama do apocalipse. Exame, 27 de agosto de 1997, p. 73.
[5] DE MAIS, Domenico. O futuro do trabalho. 2ª ed. Rio de janeiro: José Olympio, 2000.
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