O novo mistério da Mona Lisa


Pequenas letras descobertas na obra renascentista podem ajudar a revelar quem foi a modelo que inspirou Leonardo da Vinci. Mensagens cifradas eram comuns em peças de arte

Max Milliano Melo 



Brasília – A obra ocupa uma sala exclusiva no Museu do Louvre, em Paris, na França, onde é visitada por mais de 8,5 milhões de pessoas por ano. É constantemente fotografada, escaneada e estudada por pesquisadores de todo o mundo. No entanto, toda essa exposição não impede que a Mona Lisa, pintada no século 16 por Leonardo da Vinci, matenha seus segredos. A forma física da modelo retratada e o nome original são dois dos mistérios que cercam o quadro renascentista. Esta semana, especialistas do Conselho Nacional de Valorização do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Itália anunciaram a descoberta de um novo detalhe na pintura: letras muito pequenas, imperceptíveis a olho nu, gravadas nas pálpebras de Mona Lisa. A novidade pode ajudar a resolver um dos maiores enigmas que cercam o quadro: a identidade da modelo que inspirou a obra-prima de Da Vinci.

Os estudiosos encontraram até agora cinco conjuntos de letras nos olhos de Mona Lisa — ou La Gioconda, como preferem os italianos. As consoantes "S", "B" e "D" e as iniciais "CE" estão gravadas na pálpebra direita de Mona Lisa. No olho esquerdo, foi encontrada a inscrição "LV", que possivelmente se refere às iniciais do autor da obra. Para os especialistas, essa nova informação pode derrubar a tese atual que afirma que Mona Lisa seria Lisa Gherardini, mulher de Francesco del Giocondo, um comerciante italiano. “A descoberta pode ajudar a enriquecer o conjunto de informações objetivas sobre a inspiração da Mona Lisa. Estamos fazendo uma investigação histórico-biográfica para poder formular hipóteses mais consistentes sobre a verdadeira identidade da moça”, conta Silvano Vicenti, principal autor do estudo.

Mas por que nunca haviam sido percebidos esses detalhes em uma das mais importantes obras de arte já criadas pelo homem? Segundo Vicenti, a resposta é simples: “Não havíamos procurado antes. Nesse tipo de pesquisa, primeiro se formula uma hipótese, depois o pesquisador vai atrás da confirmação se ela é verdadeira ou não”, explica o pesquisador italiano em entrevista ao Estado de Minas.

SORTE Para conseguir notar esses detalhes, os pesquisadores contaram com uma boa pitada de sorte. Em uma análise minuciosa do quadro, em que buscava compreender melhor as cores e as pinceladas de Da Vinci, um dos estudiosos verificou a existência das primeiras letras. Depois de estudos mais aprofundados, os italianos encontraram as demais.

O envelhecimento do quadro foi um fator que dificultou a descoberta. Diferentemente do que muitos pensam, Mona Lisa não foi pintada sobre uma tela. Para produzi-la, Da Vinci preferiu usar suas tintas sobre um quadro de madeira, que se deteriora com mais facilidade ao longo dos anos. Com isso, as minúsculas letras, gravadas com tinta preta em uma superfície marrom e verde, ficaram ainda mais ocultas. “Mona Lisa é a obra de arte mais estudada do mundo, mesmo assim um acidente foi essencial para esse achado”, diz Vicenti.

AVISOS SECRETOS 

A professora de história da arte da Faculdade Dulcina de Moraes, em Brasília, Tatiana Fernandes explica que a presença de ícones e mensagens secretas em obras de arte do renascentista é bastante comum. “Pintores como Michelangelo e Rafael também esconderam símbolos e mensagens secretas em suas produções”, diz. O costume da época surgiu de uma tradição da antiguidade, quando era comum deixar mensagens nas obras. “A diferença é que no Renascimento essas mensagens se tornaram fechadas, como mensagens cifradas”, conta Tatiana. Assim, cada obra de arte acaba se tornando uma charada para os pesquisadores atuais. Responder à proposta por Da Vinci é o próximo passo dos pesquisadores. A partir de agora, novos estudos serão feitos em todo o quadro.
In: ESTADO DE MINAS. Caderno Ciências. 19 de dezembro de 2010.

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