O Que Nos Faz Unicamente Humanos?


Quanto mais disciplinados, e capazes de auto-controle e de planejamento, o quanto mais nossa mente racional for capaz de dominar o lado emocional e instintivo, mais humanos seremos.


Detalhe de A Sagrada Família, têmpera s/madeira de 1505/1507. Galeria Uffizi, Florença, Itália.
Detalhe de A Sagrada Família, têmpera s/madeira de 1505/1507. 
Galeria Uffizi, Florença, Itália
Michelangelo Buonarroti 
 

Desde que o naturalista inglês Charles Darwin propôs, em 1860, sua famosa teoria da seleção natural, não temos mais dúvidas de que a espécie humana moderna, o Homo sapiens sapiens, evoluiu a partir de outras espécies, em um contínuo que remete a um primata que foi, algum dia no passado distante, o "elo perdido" entre os primatas antropoides ("parecidos com o homem"), e o primeiro dos hominídeos ("gênero dos homens"). 

O que nos distingue das outras criaturas vivas? O que nos faz unicamente humanos? 
De fato, o homem possui diversos atributos que os distinguem das outras espécies. A postura ereta e andar com os membros inferiores permitiu aos membros superiores ficarem livres para outras funções; a mão preênsil atua como uma verdadeira ferramenta e permite o desenvolvimento da tecnologia; o desenvolvimento da fala e da linguagem permitiu formas de comunicação mais adaptáveis; o alargamento do cérebro relativo ao tamanho do corpo; o desenvolvimento das interações sociais e culturais: infância e juventude prolongada, desta forma oferecendo a base para a complexa organização social, bem como a divisão de tarefas na sociedade, controle sobre o sexo e a agressão. Finalmente, os seres humanos se expressam como indivíduos. As características para isto incluem emoção, motivação, a expressão artística e espiritual.
 
Todas essas características, direta ou indiretamente, se relacionam ao desenvolvimento do nosso cérebro. Nossa unicalidade repousa no nosso cérebro.
 Além da capacidade verbal do cérebro, desenvolvemos a capacidade de emitir sons de alta precisão que manipulados por este cérebro simbólico possibilitou pela primeira vez na escala animal a evolução extragênica: a evolução cultural, ou seja, a transmissão de símbolos de um ser humano para outro. Com isso desenvolveu-se o conhecimento, que é uma propriedade única do ser humano, e que se relaciona com o pensamento e a consciência (que certamente podem existir em outros primatas não humanos, mas que diferem em um grau muito amplo em relação à espécie humana).
 
A capacidade simbólica do cérebro gerou coisas notáveis como uma habilidade geneticamente determinada de aprender qualquer língua ou inventar uma nova,  (...) a capacidade especial de inventar melodias, sons harmônicos, dança, elementos simbólicos que usam provavelmente as nossas estruturas cerebrais responsáveis pela fala, articulação dos movimentos e pela integração de tudo isso.
Paralelamente ao desenvolvimento intelectual, o ser humano também desenvolveu instintos sociais, como o instinto maternal, a cooperação, a curiosidade, a compaixão, o altruísmo, a competividade. Mas há uma característica mental muito forte que nos distingue dos outros primatas: o autocontrole, isto é, a capacidade de modificarmos qualquer comportamento social, mesmo que instintivo, de maneira a torná-lo mais útil para a nossa sobrevivência.

Quanto mais disciplinados, e capazes de auto-controle e de planejamento, o quanto mais nossa mente racional for capaz de dominar o lado emocional e instintivo, mais humanos seremos.
 
Portanto, a espécie humana também tem o singular dom de dominar o cérebro emocional por meio do cérebro racional. Isto, acoplado à capacidade de planejar, gerou um animal capaz de vencer através da inteligência.  
O que nos aguarda no futuro? Como será a espécie humana no ambiente que aprendemos a moldar e reconstruír?
 
Ainda é cedo para respondermos. (...)  A pessoa que reflete sabe que a vida é, de alguma forma, incompreensível. Poderemos eventualmente entender a complexidade do cérebro de um sapo, mas nunca de nós mesmos….

Texto de : Silvia Helena Cardoso, PhD & Renato M.E. Sabbatini, PhD.
Disponível   In:
http://www.cerebromente.org.br/n10/editorial-n10.htm
 
 
 
 
 

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