17 pirâmides, mil tumbas e uma cidade inteira

Pesquisadora americana encontra relíquias escondidas sob a areia e a lama do Egito a partir da análise de fotos de satélite feitas pela Nasa. Tesouro arqueológico tem mais de 3 mil anos na Reportagem de Rodrigo Craveiro do ESTADO DE MINAS, caderno Ciências desta quinta-feira de 26 de junho de 2011.

                                   Tarek Mostafa /Reuters
Pirâmide de Zoser, perto de Gizé: abaixo dela repousam diversas outras estruturas semelhantes às encontradas na região de Saqqara, a 32 quilômetros de distância do Cairo

Brasília – O que há de mais moderno permitiu aos cientistas vislumbrar 3 mil anos de passado. Ao analisar imagens feitas pelos satélites GeoEye e Quickbird e vasculhar o banco de fotografias da Nasa (a agência espacial dos Estados Unidos), a egiptóloga norte-americana Sarah Parcak custou a acreditar no que viu. Diante de seus olhos, surgiram 17 pirâmides, mais de mil tumbas e 3 mil assentamentos antigos — um tesouro arqueológico até então inimaginável.

O que mais a intrigou, no entanto, foi o fato de as fotografias tomadas a partir do espaço terem revelado o traçado exato das ruas e casas de uma cidade sepultada pela lama. “Descobrimos muitas coisas diferentes de épocas distintas, mas o mapa de Tanis (a cidade encoberta) é o mais incrível para mim. Perceber o esboço de uma cidade inteira, a partir de imagens feitas a dezenas de quilômetros de altitude, revela como a tecnologia espacial pode potencialmente mudar a arqueologia”, afirma Sarah, em entrevista ao Estado de Minas por e-mail.

De acordo com a especialista da Universidade do Alabama em Birmingham, os trabalhos de escavação na região de Saqqara, a apenas 32 quilômetros do Cairo, ainda podem trazer à tona muitos outros segredos. “A área do principal assentamento ainda não foi totalmente desenterrada. Então, é excitante que tenhamos agora o traçado de grande parte da cidade. Isso ajudará a arqueologia nas próximas pesquisas”, explica a especialista, que é professora assistente do Departamento de História e Antropologia e diretora do Laboratório para Observatório Global da instituição de ensino. Os satélites usados na descoberta têm câmeras em infravermelho tão potentes que são capazes de identificar objetos com menos de 1 metro de diâmetro.

“As pirâmides e as tumbas que descobrimos são principalmente da área de Saqqara. Elas estão soterradas há milhares de anos”, comenta a egiptóloga responsável pela façanha. “Os arqueólogos sabiam que a área poderia ser mais ampla, mas as imagens ajudaram a mostrar onde essas estruturas podem ser encontradas”, acrescenta Sarah Parcak.

Ainda na fase inicial, escavações na região confirmaram a descoberta de duas das 17 pirâmides, ainda sob a lama. Entusiasta do uso de tecnologia espacial aliado à egiptologia, Sarah visitou um dos sítios arqueológicos em Tanis e assegurou que uma casa de 3 mil anos desenterrada é idêntica à que aparece na imagem de satélite. As construções mostradas nas imagens foram feitas com tijolos de barro, e sua densidade permite aos satélites detectar objetos imperceptíveis ao olho humano, ao diferenciar o solo regular do terreno argiloso.

As autoridades egípcias teriam demonstrado relutância em permitir as pesquisas em Saqqara, por considerarem a região de pouco interesse histórico. A emissora britânica BBC decidiu, então, produzir um episódio do documentário Egypt’s Lost Cities (Cidades Perdidas do Egito). A equipe de reportagem visitou Saqqara acompanhada da pesquisadora e registrou as primeiras escavações. A egiptóloga e sua equipe acreditam estarem diante de um dos mais importantes sítios arqueológicos do Egito. “Indiana Jones é da escola velha. Estamos nos movendo adiante, Indy. Desculpe-me, Harrison Ford”, brincou a cientista, durante as filmagens. “Fazíamos essa pesquisa, de modo intenso, por mais de um ano. Pude ver os dados enquanto surgiam, mas para mim o momento de surpresa foi quando dei um passo atrás e analisei tudo o que tínhamos encontrado. Não acreditei que poderíamos localizar tantas ruínas por todo o Egito”, acrescentou.

Diferentemente das grandes pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, as construções da área de Saqqara foram erguidas com vários degraus. O Ministério das Antiguidades do Egito agora pretende usar os satélites para a exploração e a proteção dos sítios arqueológicos, ameaçados pela ação de caçadores de tesouro e de saqueadores.



Entrevista/Sarah Parcak
Egiptóloga da Universidade do Alabama em Birmingham (EUA)

Qual foi sua reação ao ver as imagens em infravermelho pela primeira vez?
Tenho esse trabalho de pesquisa em Saqqara por 11 anos. Em 2004, já havíamos escavado a parede do recinto de um templo no Delta do Rio Nilo. Tanis era a principal capital do Egito Antigo, durante o fim do chamado Império Novo (1550 a.C. a 1070 a.C.). Então, era um local muito importante. Eu não pude acreditar em meus olhos quando vi as imagens pela primeira vez. A região de Saqqara funcionava como um grande cemitério para a cidade de Memphis. Então, muitas centenas de milhares de pessoas foram sepultadas ali, ao longo de milhares de anos.

Estamos diante de um dos maiores tesouros da egiptologia?
Creio que o maior tesouro do Egito é o fato de ainda haver muito a ser descoberto. E nossa pesquisa indica o potencial do futuro da arqueologia no país. As pirâmides e tumbas que detectamos nas imagens de satélite estão situadas em Saqqara, ao sul da cidade de Gizé.


Como a senhora analisa a importância de sua descoberta e seu impacto na arqueologia?
Bem, para confirmar o que existe lá ainda temos de escavar. Mas o mais importante aqui são os dados do assentamento. Nós podemos usar a nova informação para nos dizer como as pessoas viviam no Egito Antigo e como a sociedade mudou ao longo do tempo. Temos trabalhado no Egito por mais de 200 anos e acho que temos descoberto muita coisa. Mas a realidade é que desenterramos a fração de um porcento do que está lá. (RC)
In: ESTADO DE MINAS

Comentários

  1. parabéns pelo seu trabalho, eu acredito que neste planeta já houve muita coisa que a gente nem imagina, estou muito entusiasmado com sua descoberta, torço muito pra que voce seja muito feliz nesta empreita. que DEUS te de muita sabedoria pra continuar em frente,felicidades.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

As bolsas de mandinga

Alinhamento dos Chacras com o Pai Nosso

Fonseca - uma história de emoções