A redescoberta da antropofagia
Começa hoje a nona edição da Festa Literária Internacional de Paraty, que homenageia Oswald de Andrade e traz como convidados nomes como Antonio Candido, Claude Lanzmann e James Ellroy
Ana Clara Brant
Um ícone do movimento modernista, autor do Manifesto antropófago e da célebre frase “Tupi or not tupi, that is the question”. Mas, curiosamente, o personagem Oswald de Andrade, notório por sua irreverência e pelo triângulo amoroso com a artista plástica Tarsila do Amaral e com a jornalista e escritora Patrícia Galvão, a Pagu, é mais conhecido do grande público do que sua obra como poeta e escritor. E é esse lado pouco explorado de Oswald que servirá de temática da 9ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que começa hoje e vai até domingo.
“A escolha de Oswald se deve primeiro porque é um escritor pouco lido, então isso deixa em aberto vários pontos de sua obra que merecem ser revistados e até descobertos. E além disso, estamos a um ano das comemorações dos 90 anos da Semana de Arte Moderna de 1922, em que ele é um dos principais representantes. Essa homenagem vem a calhar”, comenta o jornalista Manuel da Costa Pinto, que assumiu a curadoria da Flip em 2011.
Uma série de homenagens ao escritor paulistano, como teatro, shows e, claro, os debates, vão marcar a feira, que traz 29 autores de 13 países que irão discutir, em 18 mesas, ciência, filosofia, tecnologia, linguagem e muita literatura.
Considerado o mais importante crítico literário brasileiro, Antonio Candido fará a conferência de abertura hoje à noite com o compositor e professor de literatura brasileira José Miguel Wisnik. Na mesa Oswald de Andrade: devoração e mobilidade, Candido vai discorrer sobre a personalidade intelectual e artística de Oswald, com quem manteve uma relação literária e pessoal intensa. “Junto com o Sérgio Buarque de Holanda e o Gilberto Freyre, o Antônio Candido é um dos maiores intelectuais da história desse país. Só de ele estar aqui já deve ser comemorado. É um marco na história da Flip e ele é quem estará nos homenageando com a sua presença”, opina o curador do evento.
Outro nome de destaque é o romancista João Ubaldo Ribeiro, que participa pela primeira vez da feira. Para Manuel da Costa Pinto, a presença do escritor baiano foi uma das primeiras confirmadas e que o fato de ele nunca ter estado na Flip não influenciou em sua decisão. “Comigo a coisa está começando do zero. Não levei em conta se ele já tinha participado, se já tinha sido convidado ou não. João Ubaldo é um dos maiores romancistas do Brasil, que transita por todas as vertentes do romance e achei que ele deveria estar presente. É o autor-chave dessa edição da Flip”, frisa.
Aliás, o romance, de todos os gêneros, especialmente o contemporâneo, vai marcar a Feira Literária. Escritores consagrados, como a argentina Pola Oloixarac, o português valter hugo mãe e o norte-americano James Ellroy são algumas das atrações mais esperadas. Uma das baixas é o escritor italiano Antonio Tabucchi, que cancelou sua vinda em função da decisão da Justiça brasileira em relação ao caso Cesare Battisti, que teve seu pedido de extradição pelo governo italiano negado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Eventos paralelos
Paralelo à Festa Literária Internacional de Paraty, ocorrem vários eventos, como a Flipinha, voltada para o público infantil, e a Flipzona, cujo foco são os adolescentes. Nos cinco dias do de programação, bate- papo, ciranda com autores infanto-juvenis, mostra de curtas metragens, shows, peças de teatro, musicais e saraus.
Outra atração alternativa é a OFF Flip. Por meio do espaço criado pela OFF, abrem-se oportunidades de intercâmbio entre autores, poetas e representantes do mercado editorial, fora da programação oficial. Destaque para a participação de diversos autores, como os da antologia organizada por Nelson de Oliveira, Geração zero zero, do escritor Gustavo Bernardo, do poeta carioca Chacal e do poeta e letrista Tavinho Paes.
Quem foi Oswald de Andrade
Nascido em 1890, em São Paulo, José Oswald de Sousa de Andrade Nogueira é considerado um dos mais inovadores escritores do modernismo e um dos principais representantes da Semana de Arte Moderna de 1922. Publicou Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924), Pau Brasil (1925) e Manifesto antropófago (1928) e introduziu a prosa experimental no país, com Memórias sentimentais de João Miramar (1924). É considerado precursor da tropicália e da poesia marginal dos anos 1970. Foi casado com a artista plástica Tarsila do Amaral e com a jornalista e escritora Patrícia Galvão, a Pagu. Morreu aos 64 anos, em São Paulo.
A força do ecletismo
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