Internet: expectativas e receios
«A difusão da Internet por todo o mundo suscitou questões importantes aos sociólogos. A Internet está a transformar os contornos do quotidiano, esbatendo as fronteiras entre o global e o local, apresentando novos canais para comunicação e interacção, e permitindo cada vez mais a execução de tarefas quotidianas online. Porém, ao mesmo tempo que fornece novas e excitantes oportunidades para explorar o mundo social, a Internet também ameaça minar as relações humanas e as comunidades. Embora a “era da informação” ainda esteja a dar os primeiros passos, muitos sociólogos debatem as complexas implicações da Internet para as sociedades (…).
As opiniões sobre os efeitos da Internet na interacção social dividem-se em duas grandes categorias.
Por um lado, encontram-se aqueles que vêem o mundo online como espaço de criação de novas formas de relacionamento electrónico que realçam ou complementam interacções face-a-face existentes. Enquanto viajam ou trabalham fora do país, os indivíduos podem utilizar a Internet para comunicar regularmente com amigos e parentes em casa. A distância e a separação tornam-se mais toleráveis. A Internet também permite a formação de novos tipos de relacionamento: utilizadores online “anónimos” podem encontrar-se em salas de chat e discutir tópicos de interesse mútuo. Estes cibercontactos às vezes evoluem para o estabelecimento de amizades exclusivamente online, ou resultam mesmo em encontros face-a-face. Muitos utilizadores da Internet tornaram-se parte de comunidades online, comunidades qualitativamente diferentes daquelas que habitam no mundo físico. Os académicos que vêem a Internet como um complemento positivo à interacção humana, argumentam que esta expande e enriquece as redes sociais das pessoas.
No entanto, nem todos os académicos têm uma posição tão entusiástica. À medida que as pessoas despendem cada vez mais tempo a comunicar online e a realizar as suas tarefas diárias no ciberespaço, é provável que passem menos tempo a interagir uns com os outros no mundo físico. Alguns sociólogos receiam que a expansão da Internet conduza a um aumento do isolamento social e da atomização, argumentando que, como efeito do acesso crescente à Internet nos lares, as pessoas despendem menos “tempo de qualidade” com as suas famílias e amigos. A Internet está a usurpar a vida doméstica, já que são pouco claras as fronteiras entre o trabalho e a casa: muitos empregados continuam a trabalhar em casa a altas horas – consultando o correio electrónico ou terminando tarefas que não conseguiram terminar durante o dia. O contacto humano reduz-se, os relacionamentos pessoais ressentem-se, formas tradicionais de entretenimento, como o teatro ou os livros, são marginalizadas, e o tecido social vai-se fragilizando.
Como podemos avaliar estas posições contrastantes? Existem certamente elementos de verdade em ambos os lados do debate. A Internet está, sem dúvida, a alargar os nossos horizontes, e apresenta oportunidades sem precedentes para estabelecer contacto com outros. No entanto, o ritmo frenético da sua expansão também representa desafios e ameaças a formas tradicionais de interacção humana. Irá a Internet transformar radicalmente a sociedade num domínio fragmentado e impessoal onde os seres humanos raramente se aventuram fora das suas casas, perdendo a capacidade de comunicar? Parece improvável. Há cerca de cinquenta anos atrás, expressaram-se receios muito semelhantes face ao aparecimento da televisão no cenário dos media. Na sua obra Multidão Solitária (1961), uma influente análise sociológica da sociedade americana nos anos 50, David Reisman e os seus colegas preocuparam-se com os efeitos da TV sobre a família e a vida comunitária. Embora alguns dos seus receios tivessem sentido, também é verdade que a televisão e os mass media têm enriquecido o mundo social.
Tal como aconteceu antes com a televisão, a Internet tem suscitado tanto expectativas como receios. Será que vamos perder as nossas identidades no ciberespaço? Iremos ser dominados pela tecnologia dos computadores em vez de sermos nós a dominá-los? Irão os seres humanos refugiar-se num mundo online anti-social? A resposta a estas perguntas é quase de certeza “não”.»
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