Raízes Africanas
Nº 06 - RAÍZES AFRICANAS |
INTRODUÇÃO Por Alberto da Costa e Silva Neste pequeno livro mostra-se por que e como os nossos antepassados africanos, apesar de maltratados e humilhados pela escravidão, contribuíram tão fortemente para o que somos e seremos. Um grande nome do Império, Bernardo Pereira de Vasconcelos, num debate sobre a abolição do tráfico negreiro, disse no Parlamento que “a África civilizava a América”. Poderia ter acrescentado que povoava o Brasil e garantia a ocupação de seu território. E, se os africanos aprenderam com os europeus, também lhes ensinaram, e muito. Dentre outras coisas, como cultivar os solos tropicais, criar gado em campo aberto e minerar o ouro e o ferro. Mais importante ainda foi a bagagem que trouxeram consigo, e era toda a que lhes cabia na alma, compreendendo religião, tradições, valores, saberes e comportamentos. Durante mais de três séculos, o Brasil, de um lado, e Angola e o Golfo do Benim, de outro, completaram-se economicamente: as portas dos barracões de escravos de Luanda como que se abriram para os do Rio de Janeiro. E os de Ajudá e Lagos para os de Salvador. Aqueles que atravessavam essas portas pertenciam a muitas etnias, várias das quais se encontraram pela primeira vez no Brasil. Aqui, as que se aproximavam pelo idioma, pelas crenças ou pelos costumes construíram novas identidades e adaptaram suas estruturas sociais e rituais religiosos às novas condições de vida. Reinventaram-se. Seus descendentes foram abrasileirando e reafricanizando à brasileira os patrimônios culturais dos ex-escravos – como teria sucedido à capoeira os maracatus. Por muito tempo, não se deu atenção ao que, hoje, nos parece evidente: o papel do negro como civilizador. Para essa mudança de perspectiva, muito contribuiu Gilberto Freyre não só com Casa Grande & Senzala, que é de 1933, mas também com o I Congresso Afro-Brasileiro, por ele organizado no ano seguinte no Recife. Assistimos, durante o século XX, à multiplicação dos estudos sobre o negro no Brasil, quase todos, porém, sem lhe acompanhar o passado africano. A África parecia mais que esquecida, ignorada. Embora durante a descolonização do continente se tenha reacendido o interesse brasileiro pela África, o descaso por sua história persistiu até ontem, ou anteontem. Ao começar a ser corrigido o pecado, não nos demoramos, no entanto, em reconhecer que muito do que se passava num lado do Atlântico afetava a outra margem. E nos convencemos de que o Brasil também começa na África, e a África se prolonga no Brasil. SUMÁRIO
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