As idades do cérebro
Pode ir se preparando: nossa organização cerebral passa por reformas periódicas ao longo dos anos. E cada região do córtex envelhece num ritmo diferente
Salvador Nogueira
Por muito tempo, foi difícil identificar como ocorria a evolução do cérebro ao longo da vida - que não se dirá de partes específicas dele? Um dos maiores mistérios é que, a despeito de o órgão crescer bastante desde o nascimento até a idade adulta (o cérebro de um recém-nascido tem apenas um terço de seu porte final), suas principais unidades - os neurônios - mantêm-se mais ou menos na mesma quantidade ao longo dos anos.
Isso não quer dizer, como por muito tempo se acreditou, que o cérebro já nasça com todos os neurônios que terá até o fim da vida - hoje sabe-se que, pelo menos em algumas regiões cerebrais, essas células nervosas estão o tempo todo sendo criadas e reabastecidas, para suprir a perda de unidades mais antigas. O cérebro, pelo menos enquanto está saudável, possui uma capacidade de "manutenção". Mas o ponto é que o número total de neurônios é aproximadamente o mesmo pela maior parte da vida.
A alta produção de sinapses vai até a adolescência. a idéia de que os bebês vivem uma "Idade mágica" até os 3 anos é uma lenda |
O cérebro infantil, como todo mundo que convive com criança pequena sabe, é incansável. Tudo é motivo para alegria ou tristeza, as emoções afloram com facilidade e, de uma forma geral, a capacidade racional é ofuscada pela confusão e por uma profusão de sensações diferentes. Não é à toa. Embora a genética e o desenvolvimento já forneçam um padrão de organização para o cérebro, com regiões diferentes servindo a propósitos diferentes, elas ainda não tiveram tempo e experiências suficientes para se fixarem no cérebro. Isso equivale a dizer que, nesse ponto do tempo, o córtex da criança (região mais externa do cérebro, responsável pelas funções cognitivas) é praticamente um livro aberto.
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