A idade está na cabeça

É um engano pensar que, depois que passou a adolescência, a pessoa já tem um cérebro "prontinho". As regiões do lobo frontal são as últimas a completar seu desenvolvimento e só se estabilizam no padrão "adulto" - com o aumento da massa branca e redução da cinzenta - por volta dos 30 anos. Se não isso, mais.
A partir desse ponto, pode-se dizer que o cérebro está tinindo - não há mais variações abruptas do funcionamento do sistema de recompensa, a capacidade de raciocínio abstrato está a mil, o poder de empatia e de imaginar o que os outros estão pensando (de você e do mundo) está bem ajustado, o hipocampo, responsável pela memória, funciona muito bem, obrigado.

Essas são as boas notícias. As más são que, daí em diante, o único caminho é para baixo. Pelo menos, nada acontecerá de repente. A ladeira não é íngreme e exige análises de muitos e muitos anos para se fazer sentir nos estudos científicos. Entretanto, um consenso sobre o envelhecimento natural do cérebro já está se formando - ainda que, de novo, ele dependa também de estudos com animais em laboratório. "O que temos visto aqui é que o cérebro adulto de roedores dá uma enxugada durante a fase adulta, perdendo uns 10% de peso durante os anos", diz Alysson Muotri, pesquisador brasileiro no Instituto Salk, em La Jolla, Califórnia (EUA). "O mesmo é válido para humanos, 5% a 10% de perda entre os 20 e os 90 anos."
Um dado interessante é que não há perda significativa de neurônios durante o envelhecimento normal (quando não existem doenças degenerativas acelerando o processo). Mas há diminuição do número de sinapses, da velocidade de maturação e da chamada plasticidade cerebral - a capacidade do cérebro de alterar suas configurações para atender às demandas do ambiente externo. "A dopamina também diminui drasticamente depois dos 35, assim como o metabolismo como um todo dá uma retardada. Isso tudo está correlacionado com uma menor capacidade cognitiva", afirma Muotri.
Uma das regiões que começam a penar mais com o envelhecimento é o hipocampo. "Ele nunca fica pronto, está sempre em transformação, porque a neurogênese (surgimento de novos neurônios) continua durante toda a vida", diz Muotri. "Mas ela cai drasticamente, uns 80% de redução no número de células-tronco geradoras de neurônios. E, quando analisamos em que essas células estão se transformando, a coisa piora: só 9% delas viram neurônios em camundongos idosos, comparadas a mais de 80% em adolescentes."
O que acontece com um hipocampo com cada vez menos neurônios novos? "O clássico da velhice: lembramos do passado, mas temos dificuldade de aprender coisas novas e conectá-las com o tempo", diz o cientista. "Também perdemos a memória de trabalho, ou temporária: 'Onde foi que deixei a chave do carro?', 'e o nome daquele neto mesmo?', coisas do tipo."
Então é só sentar e chorar, esperando a velhice comer até a última das células-tronco geradoras de neurônios no cérebro? Não! A coisa mais bonita sobre o cérebro é que, a despeito de sua complexa configuração e das várias mudanças ao longo da vida, sua interação com ele é em via dupla: ele determina o que você é, mas você também pode determinar (até certo ponto, pelo menos) o que ele vai ser.
Estudos já mostraram que, por exemplo, a realização periódica de exercícios físicos pode estimular a criação de novos neurônios. "Camundongos idosos, mas que fazem exercícios voluntários diariamente, conseguem aumentar a neurogênese em 50%, atingindo níveis semelhantes aos de jovens sedentários", diz Muotri. "Pois é, mudanças no estilo de vida podem trazer bons resultados."
Mas a coisa mais curiosa é que não basta fazer exercícios - a atividade física tem de ser voluntária, e não forçada. O que mostra que não se pode estimular o cérebro na base da obrigação. No final das contas, é a mentalidade da pessoa, a forma com que ela encara a vida, que vai determinar a idade do seu cérebro - comprovando o velho ditado, "a idade está na cabeça".

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