o cérebro vai envelhecendo da parte de trás para a da frente

Felizmente, para o caso dos lobos parietal (topo da cabeça) e occipital (costas da cabeça), responsáveis pelo "mapeamento" do corpo e do ambiente ao redor, quando chega a adolescência o problema é mais se adaptar às mudanças do corpo do que passar por uma reforma interna - essas são as regiões que dão início ao processo de redução da massa cinzenta e ampliação da massa branca.
"É especialmente interessante constatar que a curva de espessamento e refinamento cortical segue tempos diferentes entre as várias regiões do cérebro", diz Suzana. "As primeiras regiões a começar o processo de enxugamento sináptico e amadurecimento são as posteriores, que têm função sensorial: são elas que recebem os sinais dos sentidos e os processam antes de encaminhar o resultado para outras regiões mais frontais do cérebro."
Ou seja, o cérebro vai envelhecendo da parte de trás para a da frente. E ocorre que, adivinhe só, as regiões frontais são as responsáveis pelas tomadas de decisão, pesando as emoções envolvidas (córtex órbito-frontal), e pela capacidade de projetar um esquema de causas e conseqüências dos atos (córtex pré-frontal dorso-lateral) - infelizmente, elas só estão começando a amadurecer quando começa a adolescência. Para muitos neurocientistas, isso explica por que esses jovens que estão presos em uma época em que nem podem ser tidos como adultos, nem como crianças, agem de maneira tão inexplicavelmente inconseqüente, em algumas circunstâncias.
Mas a mudança mais radical, mesmo durante a adolescência, deve acontecer numa outra região cerebral, localizada no "lado de dentro" do córtex frontal - é o núcleo acumbente, uma área ligada ao famoso "sistema de recompensa" do cérebro. É graças a ele que você pode sentir prazer ao fazer algo que considere legal, ou mesmo sentir prazer pela perspectiva de fazer algo que você sabe que será legal. Essas atividades prazerosas assim o são por levarem à produção de dopamina no cérebro, que é "processada" pelo núcleo acumbente.
Crianças têm essa região bastante ativa, e por isso toda brincadeira parece valer a pena e é difícil ela perder o pique. Acontece que essa alegria tem data para acabar. Entre o início e o fim da adolescência, o núcleo acumbente perde um terço dos seus receptores de dopamina - pelo menos é isso que acontece em animais estudados em laboratório, e não há razão para crer que nos humanos isso seja diferente.
Por essa razão os adolescentes parecem perder o interesse pelas brincadeiras e passam a vivenciar longos e intensos períodos de tédio. A única saída para combater os efeitos de um cérebro menos capaz de "reagir" à presença de dopamina é realizar atividades que a produzam em maior quantidade. Isso só é possível se ele estiver sempre experimentando coisas novas - a busca de novidades é um grande estímulo para a liberação dopaminérgica.
Não é à toa que adolescentes são conhecidos pela mania de "inventar moda" - se encher de piercings e tatuagens, estar sempre atrás de uma balada diferente e, muitas vezes, tomar decisões realmente estúpidas e potencialmente viciantes. É o problema de ter um núcleo acumbente pouco sensível, somado ao córtex órbito-frontal ainda em desenvolvimento - precisando desesperadamente de novidades e incapaz de calcular com precisão as conseqüências dos seus atos, o jovem pode muitas vezes fazer coisas das quais irá se arrepender depois. A boa notícia é que isso também passa - e, na imensa maioria dos casos, sem grandes ameaças à futura vida pessoal, profissional e social da rapaziada.

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