Os diários: fontes de pesquisa para os historiadores
Anne Frank
A
autora foi uma jovem judia, passou dois anos escondida com sua família, foi
presa em 1944 e executada em 1945. Seu diário, mantido entre 12 de junho de
1942 e 1º de agosto de 1944, tornou-se uma denúncia contra as atrocidades
cometidas pelo nazismo. Lembre que, após
essas humilhações sistemáticas, os judeus eram transferidos para campos de
extermínio, como aconteceu com Anne Frank.
Sábado, 15 de julho de 1944.
Então
se você está se perguntando se ficar aqui é mais difícil para os adultos do que
para os jovens, a resposta é não, com certeza. Os mais velhos tem opinião
formada sobre as coisas e não hesita antes de agir. É muito mais duro para nós,
jovens, manter a firmeza e as opiniões em tempos como estes em que os ideais
são destruídos e despedaçados, as pessoas põem à mostra seu lado pior e ninguém
sabe mais se deve crer na verdade, no direito e em Deus. (...)
É realmente inexplicável que eu
não tenha deixado de lado todos os meus ideais, porque eles parecem tão
absurdos e impossíveis de se concretizarem. Mesmo assim eu os conservo, porque
ainda acredito que as pessoas são boas de coração. Simplesmente não posso
edificar minhas esperanças sobre alicerces de confusão, miséria e morte. Vejo o
mundo gradativamente se tornando uma selvageria. Escuto o trovão se
aproximando, cada vez mais, o que nos destruirá também; posso sentir o
sofrimento de milhões e ainda assim, penso que tudo irá se corrigir, que esta
crueldade também terminará. Enquanto isso, preciso adiar meus ideais para
quando chegarem os tempos em que talvez eu seja capaz de alcançá-los.
FRANK, Anne. O diário de Anne Frank. Rio de Janeiro: Record, 2001, p.306-307.
A garota bósnia Zlata Filipovic tinha 11 anos quando começou a escrever
seu diário.
Nele, a menina conta os horrores dos ataques sérvios à sua terra, a
Bósnia-Herzegovina,
entre 1991 e 1993. Ela descreveu os tiroteios, o
racionamento de comida, a falta de água e de luz.
Segunda-feira, 29 de junho
de 1992.
Dear Mimmy, Não aguento mais tiros de
canhão! Não aguento mais granadas caindo! Nem mortos! Nem desespero! Nem fome!
Nem infelicidade! Nem medo!
Minha vida é isso! Não se pode criticar uma estudante inocente de onze anos de
idade por estar vivendo! Uma estudante que não tem mais escola, que não tem
mais nenhuma alegria, nenhuma emoção de estudante. Uma criança que não brinca
mais, que ficou sem amigas, sem sol, sem pássaros, sem natureza, sem frutas,
sem chocolate, sem balas, só com um pouquinho de leite em pó. Uma criança que,
em resumo, não tem mais infância. Uma criança da guerra. Agora percebo mesmo
que estou no meio da guerra, que sou testemunha de uma guerra suja e nojenta.
Eu e também os milhares de outras crianças desta cidade que está sendo
destruída, que chora, que se lamenta, que espera um socorro que não virá. Meu
Deus, será que algum dia isso vai chegar ao fim, será que vou poder voltar a
ser estudante, voltar a ser uma criança feliz por ser criança? Ouvi dizer que a
infância é a época mais linda da vida. Eu estava feliz de viver minha infância,
mas essa guerra me tomou tudo. Por quê? Estou triste. Estou com vontade de
chorar. Estou chorando. Sua Zlata.
FILIPOVIC,
Zlata. O diário de Zlata. A vida de
uma menina na guerra. 8. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
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