A EDUCAÇÃO NA CULTURA DA IMAGEM




Num artigo publicado pela Revista da Fiocruz, o professor Luiz Carlos Fridman, discutindo a questão da relação imagem e tempos pós-modernos, nos apresenta algumas considerações bastante interessantes. Segundo ele, estamos numa cultura que cria, a partir da imagem, uma realidade à parte, onde tudo é espetáculo, onde as narrativas midiáticas dispensam a experiência vivida. Neste sentido o otimismo iluminista, que cria no poder da razão para superação de menoridade, dar lugar a um mundo fora de controle produzido por uma razão instrumental que está a serviço do capital e tem na mídia seu ópio. Diz o professor:



“No debate sobre a pós-modernidade, certas concepções se destacam e podem ser tomadas como referência. Dizem respeito às caracterizações da sociedade da imagem e da sociedade do conhecimento. Na primeira, considera-se que vivemos em uma cultura dominada por imagens, onde a mídia tem um papel fundamental na produção de narrativas que criam um universo de ilusão. O "espetáculo" midiático atinge as diversas esferas sociais, produzindo uma "realidade à parte" ou o "hiper-real" (...), coleção de cópias cujos originais foram perdidos ou, dito de outra forma, onde o referente vivido pelos homens desapareceu. Tudo vira espetáculo, tanto os conflitos afetivos, familiares e de vizinhança das populações pobres pacificadas pelo Ratinho, quanto as peripécias sexuais de Bill Clinton. O subtítulo do Fantástico, o show da vida, é muito apropriado como atestado da miragem eletrônica. A sociedade do conhecimento é vista pela disseminação do conhecimento a todos os planos da vida social e a filtragem de informação relevante nas rotinas e no cotidiano. A aspiração de que através da razão os homens controlariam seu destino e alcançariam a felicidade derivou para um mundo fora de controle, processo de amplas conseqüências sobre a economia, a política, a cultura e a subjetividade. Essas idéias não seriam tão fecundas se não tivessem atravessado o debate sobre a pós-modernidade. A aspiração de que através da razão os homens controlariam seu destino e alcançariam a felicidade derivou para um mundo fora de controle, processo de amplas conseqüências sobre a economia, a política, a cultura e a subjetividade. Essas idéias não seriam tão fecundas se não tivessem atravessado o debate sobre a pós-modernidade..”.



A cultura, em todos os tempos, sempre se serviu da imagem para transmitir informações e conhecimentos. A imagem tem o poder de aguçar a capacidade visual através da qual lemos a realidade. Hegel, na Fenomenologia do Espírito, discute a questão do conhecimento compreendendo a consciência do outro como o momento crucial da formação da identidade individual. Mas esse movimento acontece basicamente a partir do olhar, da captura da imagem do outro como sendo diferente de si. O olhar é a ferramenta básica e com mais riqueza de capacidade que temos para ler a realidade, daí porque a memória imagética que formamos desde os primeiros anos de vida é tão fundamental para nossa situação e localização no espaço e no tempo.



Um dado importante que podemos destacar é o seguinte: as mais importantes invenções da técnica, que mais mobilizam as pessoas do nosso tempo, são aquelas produtoras e transmissoras de imagem (tv, computador, impressos em geral, etc.). Toda nossa tecnologia tem uma preocupação especial para com a imagem, o ícone, porque ela tem um poder pedagógico e comunicador extraordinário. “o que os olhos não vêem o coração não deseja”, diz o provérbio popular. Deste modo, podemos afirmar que o a cultura pós-moderna é a cultura da imagem e a educação não pode fugir também a isto. Hoje o material didático das escolas é recheado de imagens que servem como recurso pedagógico. Alem disso, já há inclusive livros que são editados sem uma palavra, apenas com imagens e isto traz para o educando uma autonomia criadora extraordinária na interpretação contextual. E o mundo é isto: imagem. Compreender o mundo significa ser capaz de ler as imagens que se nos apresentam e que nos provocam uma interpretação do seu significado. Talvez daí resulte a importância que damos à imagem: ela se mostra mais capaz de ser interpretada com uma autonomia de conteúdo do que outras formas de leitura do mundo. Quem não já recebeu nas mãos um álbum de fotografias ao visitar uma família pela primeira vez? Quem já não tirou mil conclusões sobre a situação econômica, os costumes, as extravagâncias de alguém a partir da leitura do seu álbum fotográfico?



Ver também dar prazer. O nosso tempo é marcado por uma sociabilidade entre arte e consumo nunca vista antes. Nesse sentido, não é só o olhar que está em jogo, mas toda sensibilidade humana, trabalhada deliberadamente pelo mercado com fins de tornar o homem um puro tubo digestivo, ávido de comprar. Por isso, a sociedade pós-moderna se tornou tão marcada pela linguagem midiática quanto no auge das grandes revoluções, como a Francesa e a Industrial. Cada um ao seu tempo, esses fenômenos interferem decisivamente no modo de se relacionar, na maneira de se alimentar, vestir e tratar com a natureza das pessoas, como bem observa Jameson quando fala da lógica do capitalismo tardio. Na lógica do prazer, a mídia implementa mecanismos que estimulam a sensibilidade e a erótização, cirando uma cultura de estetização libidinosa, a começar pelas crianças.



Não é raro, na sala de aula, os professores se depararem com alunos (tanto homens quanto mulheres) com cadernos que trazem na capa imagens de artistas seminus. A erotizacao é provocada cada vez mais cedo e associada ao consumo. Portanto, hoje a escola parece correr atrás quando o assunto é educação sexual. Quando o professor fala do assunto, muitas vezes cheio de restrições, o estudante já conhece o corpo humano (principalmente enquanto objeto sexual) e, quiçá, já não praticou sua primeira experiência de prazer: o sexo.



Bem, e a imagem da escola? Será que a mídia tem formado uma imagem da escola? Para a lógica capitalista, a importância da escola reside no fato desta preparar os indivíduos para o mercado. Portanto há uma tentativa deliberada de tornar a escola instrumento de produção de mão de obra e de consumidores. Mas este não é um fenômeno recente. Em nosso tempo, a imagem construída da escola é de uma instituição fracassada, que não consegue mais fornecer conteúdos morais, não dinamizou sua estrutura, por isso não é atrativa e não dar conta de acompanhar a velocidade da informação. Mas é um ‘mal necessário’ ao capitalismo. Note que sobre a escola não é construída a imagem de algo prazeroso. Prazerosa são as relações que se travam ao redor do ambiente escolar: namoros, sexo, festas, bar, cyber café, etc. para ilustrar isto basta darmos uma olhada em “Malhação”, que está há dez anos no ar construindo a imagem da escola perfeita. O “Múltipla Escolha” é uma escola desprovida de conteúdo. Os flashes das aulas são pequenos porque o que interessa é o prazer patrocinado pela lanchonete (local de consumo) do pátio. Portanto a imagem que a mídia constrói sobre a escola não leva em consideração o saber nem a capacidade crítica que esta deve favorecer aos seus membros.
O texto na íntegra está no blog do Professor João Batista 
http://joaobatistaprofessor.blogspot.com.br/2010/03/os-rumos-da-educacao-na-cultura-pos.html 

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