Reza, Maria - José Craveirinha




As palavras do poeta moçambicano José Craveirinha, incentivando Maria a rezar, revelam as tristes realidades do mundo contemporâneo. 


 Figura sentadaMali (século XIII). Nova Iorque: Museu Metropolitano de Arte





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REZA, MARIA 
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Suam no trabalho as curvadas bestas 
e não são bestas 
são homens, Maria! 
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Corre-se a pontapés os cães na fome dos ossos 
e não são cães 
são seres humanos, Maria! 
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Feras matam velhos, mulheres e crianças 
e não são feras, são homens 
e os velhos, as mulheres e as crianças 
são os nossos pais 
nossas irmãs e nossos filhos, Maria! 
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Crias morrem á míngua de pão 
vermes na rua estendem a mão a caridade 
e nem crias nem vermes são 
mas aleijados meninos sem casa, Maria! 
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Do ódio e da guerra dos homens 
das mães e das filhas violadas 
das crianças mortas de anemia 
e de todos os que apodrecem nos calabouços 
cresce no mundo o girassol da esperança 
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Ah! Maria 
põe as mãos e reza. 
Pelos homens todos 
e negros de toda a parte 
põe as mãos 
e reza, Maria! 
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JOSÉ CRAVEIRINHA

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