"O que é o homem?


'Sabemos todos', responde Edgar Morin, ' que somos animais da classe dos mamíferos, da ordem dos primatas, da família dos hominídeos, dogênero homo, da espécie sapiens.' Qual é nossa diferença específica? A política (Aristóteles)? A razão (os estóicos)? O riso (Rabelais)? A liberdade (Rousseau)? O trabalho (Marx)? Ainda assim, isso só vale para a espécie, não para o indivíduo. Biologicamente, um ser humano é um ser nascido de um homem e de uma mulher - mesmo que esta ou aquela patologia o privasse de razão ou de liberdade, impedisse-o de trabalhar, de fazer política ou de rir. Filosoficamente, um ser humano é um ser que tem de tornar-se humano, tanto quanto possa. Há muito o que fazer. Homo sapiens é uma espécie animal; humanidade, uma criação cultural. O que é o homem?
'É um ser de uma afetividade intensa e instável, que sorri, ri, chora, um ser ansioso e angustiado, um serfruidor, ébrio, extasiado, violento, amante, um ser invadido pelo imaginário, um ser que sabe a morte e não pode acreditar nela, um ser que secreta o mito e a magia, um ser possuído pelos espíritos e pelos deuses, um ser que se alimenta de ilusões e de quimeras, um ser subjetivo cujas relações com o mundoobjetivo são sempre incertas, um ser submetido ao erro, à errância, um ser úbrico* que produz desordem. E, como chamamos de loucura a conjunção da ilusão, da desmesura, da instabilidade, da incerteza entre real e imaginário, da confusão entre subjetivo e objetivo, do erro, da desordem, somos obrigados a ver que Homo sapiens é Homo demens."
Morin, Edgar - In 'A Filosofia', de André Comte-Sponville, p. 115 -116.
* úbrico = desmedido

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